Pesquisar este blog

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Os cinco Solas da Reforma

Introdução
Martinho Lutero era um monge agostiniano, de origem pequeno-burguesa, da região da Alemanha. Seu rompimento com a igreja católica deu-se por causa da venda de indulgências (Perdão). Para concluir a construção da Basílica de São Pedro, o papa Leão X (1513-1521) determinou a venda de indulgências para toda a cristandade e encarregou o dominicano Tetzel de comerciá-las na Alemanha.
Lutero protestou violentamente contra esse comércio e, em 1517, afixou na porta da igreja de Wittenberg, onde era mestre e pregador, 95 proposições onde, entre outras coisas, condenava a prática vergonhosa da venda de indulgências.
Essas teses foram afixadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg em 1o de outubro de 1517. Era esse o modo usual de se anunciar uma “disputa”, prática regular da vida universitária. Ao fazer isso, não havia nada de excepcional na atitude de Lutero(1483-1546), pois apenas agia conforme costumes medievais ainda presentes nas universidades européias. Essas disputas eram debates que envolviam professores e estudantes, daí o fato de Lutero pedir para aqueles que não pudessem se fazer presentes às disputas que, ao menos, enviassem suas opiniões por escrito para serem lidas. Portanto, as “teses” deveriam ser vistas como “pontos a serem debatidos” em uma plenária. esse ato público envolvia apenas doutos e seus estudantes, já que eram feitas em latim como demonstra o fato de as teses terem sido escritas originalmente nesse idoma e não em alemão (língua original de Lutero).
O papa Leão X exigiu uma retratação, sempre recusada por Lutero. Lutero foi excomungado e reagiu imediatamente, queimando em público a bula papal (documento de excomunhão). Frederico, então príncipe eleito da Saxônia tornou-se protetor de Lutero, e recolheu-o em seu castelo, onde o Lutero desenvolveu suas idéias.
As principais foram:
• A justificação pela fé, pela qual as aparências têm valor secundário. A única coisa que salva o homem é a fé. Sem ela, de nada valem as obras de piedade, os preceitos e as regras. O homem está só diante de Deus, sem intermediários: Deus estende ao homem sua graça e salvação; o homem estende para Deus sua fé.
• Por isso a Igreja não tem função, o papa é um impostor, a hierarquia eclesiástica, uma inutilidade, afirmava Lutero.
• Outra idéia de Lutero era o livre-exame. A Igreja era considerada incompetente para salvar o homem; por isso sua interpretação das Sagradas Escrituras não era válida: Lutero queria que todos os homens tivessem acesso à Bíblia (por isso a traduziu do latim para o alemão). Todo homem poderia interpretar a Bíblia segundo sua própria consciência, emancipando-se no plano da ideologia religiosa.
Acerca da pregação, Lutero falava especificamente aos jovens pregadores:
Portai-vos em pé com garbo, falai virilmente, sede expeditos (Desembaraçados, ativos, diligentes,). Quando fores pregar, voltai-vos para Deus e dizei-lhe: “Senhor meu, quero pregar para tua honra, falar de ti, magnificar e glorificar o teu nome”. E que o vosso sermão seja dirigido não aos ouvintes mais conspícuos (Notáveis, eminentes e ilustres), mas aos mais simples e ignorantes.
Lembrando do cuidado que tinha Jesus de ensinar com simplicidade. Das videiras, dos rebanhos, das árvores, deduzia Ele as suas parábolas; tudo para que as multidões compreendessem e retivessem a Verdade. Fiéis a esta vocação, nós receberemos o nosso prêmio, senão nesta vida, na futura.
A Reforma teve intuito moralizador, colocando em plano de destaque a moral do indivíduo agora conhecedor dos textos religiosos, que por séculos ficaram sob o domínio privilegiado dos membros da hierarquia eclesiástica Católica. As principais figuras da Reforma foram John Huss (1370-1415), Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-1564).
Por volta de 1450-1455 tinha sido impresso pela primeira vez um livro: uma bíblia. A Biblia Latina, impressa por João Gutenberg, com uma edição de cerca de 150 exemplares, uma revolução tecnológica, certamente, mas que dá início a uma revolução social. Até aqui, na Idade Média, os livros eram copiados à mão. A bíblia era um luxo, exclusivo aos elementos da Igreja. A maioria da população, analfabeta, conhece a Bíblia apenas de forma vaga, das visitas à Igreja.
Nos anos seguintes à invenção da imprensa surgiram milhares de bíblias em circulação, impressas primeiro em latim, depois também em Grego, e em Inglês, Alemão, Francês, e demais línguas e dialetos.
Os Cinco Solas da Reforma
A Reforma tem como base 5 pilares que são:
Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria
Somente as Escrituras, Somente Cristo, Somente a Graça, Somente a Fé, Somente a Glória de Deus.
SOLA SCRIPTURA.
• Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual na prática não está sendo guiada pela bíblia e sim pela cultura.
• Técnicas terapêuticas são usadas, em lugar da verdadeira cura divina. Confissão positiva.
• Pensamento positivo em lugar da verdadeira fé. Quando Jesus dizia “ se tu podes crer, tudo é possível ao que crê, Ele na verdade queria levar o ser humano a crer Nele e operar milagres pelo Seu infinito poder e não por capacidade humana. Muitos hoje pegam o texto de filipenses 4,13 Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece, e fazem uma pregação humanista onde o homem é praticamente o centro,onde homem se cura, se levanta, muda de vida etc. Mas indo ao contexto Paulo diz:Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.
• Teologia da prosperidade em lugar de conformar-se com as coisas humildes.
• Estratégias de marketing, no lugar da verdadeira pregação. Pregadores que divertem o público em vez de esclarecer a verdade da palavra. Pregam para sua própria glória e não para a glória de Deus.
• O mundo muitas vezes tem mais voz sobre a igreja, e em como ele deve funcionar, e no que deve oferecer, do que a Palavra de Deus.
• Os pastores não supervisionam o culto. Os cultos em muitas igrejas são motivo de escândalo para os descrentes.
• Não se importam mais com a doutrina dos costumes.
• A música nas igrejas não é mais a mesma.Alguns cultos parecem veradeiras festas mundanas.
• À medida que a autoridade bíblica é abandonada na prática, as verdades se enfraqueceram na consciência dos crentes. As principais doutrinas da igreja perderam sua primazia, a igreja está sendo cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.
• Em vez de adaptar a fé cristã para satisfazer as pessoas do mundo, devemos proclamar a Bíblia como única regra de fé e prática, justiça, verdade, e o evangelho como a único meio de SALVAÇÃO.
• A verdade da bíblia é a única regra para a disciplina da igreja.
• A Bíblia precisa ser ensinada e pregada na igreja.
• As pregações precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensinos, não a expressão da opinião ou da idéia de Pastores e lideres cristãos.
• Devemos deixar O Espírito Santo nos dirigir pelo conteúdo das Escrituras.
• Sem as Escrituras nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra da bíblia, e não a experiência humana deve ser pregada como única verdade que liberta. Sola Scriptura deve ser pregada.
• A igreja deve reafirmar que só a Escritura,inerrante palavra de Deus é fonte única da revelação divina escrita, única para convencer a consciência humana.
• A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação, para nos libertar do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.
• A igreja deve negar que qualquer credo, concílio ou indivíduo fora de Cristo do Espírito Santo e da Palavra de Deus possa constranger a consciência de uma pessoa.


SOLO CHRISTUS: A Fé Centrada em Cristo
À medida que a fé evangélica PROTESTANTE se secularizou, seus interesses se confundiram com os do mundo
• O resultado foi a perda das verdades absolutas, o individualismo, (eu faço o que eu quero, pastor não manda em mim!) Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? (I Coríntios 3: 4).
• A substituição da santidade pela integridade(Qualidade de íntegro; inteireza.
Retidão, imparcialidade), Santidade é dom de Deus, ao passo que integridade é desenvolvida pelo homem, em outras palavras isto é humanismo.
• Perda do arrependimento pela recuperação(O arrependimento liberta na hora, através de Cristo, SOLO CHRISTUS. Mas hoje em dia a maioria das pessoas diz diante do apelo para aceitarem Jesus, eu vou me libertar disso ou daquilo primeiro depois eu O aceito. SOLO CHRISTUS liberta.
• Perda da verdade pela intuição, (Verdade é a palavra de Deus, Jo. 17,17, intuição é a visão humana, é o modo do homem perceber, discernir; é o que o homem pensa).
• Perda da fé pelo sentimento, (ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem, ao passo que sentimento é o ato de perceber, apreciar; ter noção, Palpite, pressentimento, mas tudo isso está longe da inabalável FÉ que norteou a igreja por séculos).
• Por fim a perda da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata.
• Nesse contexto Cristo desaparece e sua cruz se desloca do centro da visão de muitas igrejas.
Solo Christus
• A igreja deve reafirmar que sua salvação é realizada unicamente pela obra mediatória e vicária de Cristo no golgota.
• Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.
• A igreja deve negar que o evangelho esteja sendo pregado se a obra vicária de Cristo não estiver sendo declarada, e se a fé em Cristo e em sua obra não estiver sendo pregadas.
SOLA GRATIA: O Evangelho sob ameaça
O Evangelho de Jesus cristo está sendo desvirtuado pelo excesso de Confiança na capacidade humana.
• O evangelho da auto-estima, o evangelho da saúde e da prosperidade, estão transformando o verdadeiro evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores, tal qual fez a igreja católica no passado. Esse tipo de pregação ofusca a doutrina da justificação pela fé.
• Muitas igrejas não pregam mais o evangelho da salvação, e da santificação.
• A graça de Deus em Cristo evidenciada no evangelho não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos. At. 4.12.
• Todo ser humano nasce espiritualmente morto no pecado e não é capaz de salvar-se a não ser pela graça regeneradora. Sola Gratia salva.
Sola Gratia
• A igreja deve reafirmar que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente por sua graça em Cristo.
• E que a obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, livrando-nos da servidão do pecado e erguendo-nos da morte espiritual para a vida espiritual.
• A igreja deve negar que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação.
• A igreja deve reafirmar que a fé não é produzida pela natureza humana não-regenerada, mas que é um dom de Deus.

SOLA FIDE: O Artigo Primordial da fé.
Não há nada que o homem possa fazer para ser salvo a não ser CRER e receber Cristo como Salvador.
A justificação é somente pela graça, SOMENTE POR INTERMÉDIO DA FÉ, SOLA FIDE e somente por meio de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta.
Este é um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, e até negado por líderes, estudiosos, teólogos e até pastores evangélicos, que colocam doutrinas humanas como necessárias à salvação. Mas SOLA FIDE é suficiente para a salvação, vaja o caso do ladrão na cruz por exemplo. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso. Luc. 23,42-43.
Não existe evangelho a não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele Ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora PELA FÉ, e SOLA FIDE somente pela FÉ,andamos na sua graça como aqueles que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. (Romanos 8: 1). Não há base para nossa aceitação diante de Deus a não ser somente pela FÉ na obra salvadora de Cristo. A base não é a devoção à igreja, ou a nossa moralidade, mas a FÉ no que Deus fez por nós em Cristo, independente do que nós podemos fazer para alcançar Deus.


Sola Fide
Reafirmamos que a justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.
Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou que uma instituição que reivindique ser igreja, mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.
SOLI DEO GLORIA: O Culto Centrado em Deus
Onde quer que na igreja se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus nós estamos fazendo o trabalho Dele do nosso modo, e não estamos dando a Ele a glória devida. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é visível e lamentável. É essa perda que está permitindo transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-se bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando cada vez menos para muitos de nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em adorar e glorificar a Deus, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós.
Soli Deo Gloria
A salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre por isso. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade Dele, e para sua glória somente.
Não podemos glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, e se negligenciarmos sua Lei ou o Evangelho em nossa pregação. É preciso fazer tudo com decência e ordem e para gloria de Deus.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

"Deixem Deus ser Deus": A Predestinação de Acordo com Martinho Lutero


"Deixem Deus ser Deus": A Predestinação de Acordo com Martinho Lutero

O problema da predestinação é levantado pela especificidade da tradição judeu-cristã: o fato de que Deus revelou-se exclusivamente num povo, Israel, e supremamente num homem, Jesus de Nazaré. Jesus, assim como Paulo, falou dos “eleitos” e dos “poucos escolhidos”. A tensão entre a livre eleição de Deus e a resposta humana genuína está presente já nos documentos do Novo Testamento. Entretanto, Agostinho, em sua luta clássica com Pelágio, foi quem primeiramente desenvolveu uma doutrina madura da predestinação.
Para Pelágio, a salvação era uma recompensa, o resultado das boas obras livremente realizadas pelos seres humanos. A graça não era algo diferente ou além da natureza, nem acima dela; a graça estava presente dentro da própria natureza. Em outras palavras, a graça era simplesmente a capacidade natural, que todos possuem, de fazer a coisa certa, de obedecer aos mandamentos e assim obter a salvação. Agostinho, por outro lado, via um grande abismo entre a natureza, em seu estado caído, e a graça. Profundamente cônscio da impotência total de sua própria vontade em escoher corretamente. Agostinho entendia a salvação como a livre e surpreendente dadivda de Deus: “Atribuo à tua graça e misericórdia, porque dissolveste meus pecados como se fossem gelo”. Se, entretanto, a fonte de nossa conversão a Deus reside não em nós mesmos, mas somente no bom prazer de Deus, por que alguns reagem positivamente ao Evangelho, enquanto outros o desprezam? Essa pergunta levou Agostinho à discussão paulina da eleição, exposta em Romanos 9-11. Aqui ele encontra a base para sua própria doutrina “cruel” da predestinação: da massa da humanidade decaída, Deus escolhe alguns para a vida eterna e omite outros que estão, assim, destinados à destruição, e tal decisão é feita independentemente de obras ou méritos humanos.
Durante os mil anos transcorridos entre Agostinho e Lutero, a principal corrente da teologia medieval dedicou-se a dissolver o severo predestinacionismo daquele. É verdade que Pelágio fora condenado no Concílio de Éfeso (431), e o semipelagianismo, a saber, a visão de que ao menos o inicio da fé, o primeiro voltar-se para Deus, era resultado do livre-arbítrio, foi rejeitado pelo II Concílio de Orange (529). Contudo, a maioria dos teólogos, tentou modificar a doutrina de Agostinho, enfraquecendo a base da predestinação. Alexandre de Hales recorreu ao principio da eqüidade divina: “Deus relaciona-se de igual para igual com todos”. Outros afirmavam que a predestinação era subordinada ao conhecimento prévio, ou seja, Deus elege aqueles que sabe com antecedência que receberão méritos de seu próprio livre-arbítrio. Nenhuma dessas teorias da salvação era “puramente” pelagiana, porque todas requeriam a assistência da graça divina. Ainda assim, o fator crucial continuava sendo a decisão humana de responder positivamente a Deus, em lugar da livre e desacorrentada decisão de Deus de escolher quem desejasse.
Vimos como a doutrina da justificação sustentada por Lutero rompeu decisivamente com o modelo agostiniano de distribuição progressiva da graça. Somos justificados não porque Deus nos está tornando gradualmente justos, mas porque fomos declarados justos com base no sacrifício expiatório de Cristo. Contudo, a partir do princípio anterior da sola gratia , Lutero – e Zuínglio e Calvino depois dele – permanece firme com Agostinho contra os “pelagianos” posteriores que exaltam o livre-arbítrio humano à custa da livre graça de Deus. Nesse aspecto, a linha principal da Reforma Protestante pode ser vista como uma “aguda agostinianização do cristianismo”. Alguns historiadores consideram a doutrina da predestinação de Lutero uma aberração de seus temas principais ou, na melhor das hipóteses, “um pensamento meramente auxiliar”. Mas Lutero via o assunto de maneira diferente. Respondendo ao ataque de Erasmo a essa doutrina, Lutero elogiou o humanista por não aborrecê-lo com questões insignificantes como o papado, o purgatório ou as indulgências. “Apenas você”, ele disse, “atacou a questão verdadeira, isso é, a questão inicial [...] Apenas você percebeu o eixo ao redor do qual tudo gira, e apontou para o alvo vital.”
Uma das queixas de Lutero contra os “teólogos-porcos” era a tese deles de que a vontade humana, em sua própria volição, poderia realmente amar a Deus todas as coisas, ou que, ao fazer seu melhor, mesmo à parte da graça, alguém poderia obter certa permanência perante Deus. A essa avaliação otimista do potencial humano, Lutero opôs um duro contraste entre natureza e graça. “A graça coloca a Deus no lugar no lugar de tudo o mais que ela vê, e o prefere a si mesma, mas a natureza coloca a si mesma no lugar de tudo, e mesmo no lugar de Deus, e busca apenas o que lhe é próprio e não o que é de Deus”. Como “natureza” Lutero não queria dizer simplesmente o reino criado, mas sim o reino criado decaído e particularmente, a vontade humana decaída, que esta “curvada sobre si mesma” ( incurvatus in se ), “escravizada” e manchada com o mal em todas as suas ações. Na Disputa de Heidelberg, em 1518, Lutero defendeu a tese: “Depois da queda, o livre-arbítrio existe apenas nominalmente, e, enquanto, alguém ´faz o que está em si´, está cometendo um pecado mortal”. Inclui-se essa formulação na bula Exsurge Domine , pela qual o Papa Leão X excomungou Lutero, em 1520.
Então, será que Lutero era um determinista absoluto? Erasmo e alguns estudiosos pensavam assim. Lutero, de fato, aproximou-se perigosamente de linguagem necessitariana. Todavia, ele nunca negou que o livre-arbítrio mantém seu poder em assuntos que não se relacionam com a salvação. Assim, Lutero disse a Erasmo: “Sem dúvida você está certo em conferir ao homem algum tipo de livre-arbítrio, mas imputar-lhe um arbítrio que seja livre nas coisas de Deus é demais”. Lutero admitiu abertamente que mesmo uma vontade escravizada “não é um nada”, que, com respeito àquelas coisas “inferiores” a ela, a vontade mantém seu poder total. É apenas com respeito àquilo que é “superior” a ela que a vontade é mantida presa em seus pecados e não pode escolher o bem de acordo com Deus. Aqui, encontramos um paralelo ao desprezo de Lutero para com a razão. Em sua esfera legítima, a razão é o mais elevado dom de Deus, mas no momento em que excede para a teologia, torna-se a “prostituta do diabo”. O mesmo se dá com o livre-arbítrio. Entendido como a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, para cumprir as responsabilidades no mundo, o livre-arbítrio permanece intacto. O que ele não pode fazer é realizar a própria salvação. Nesse sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido pelo pecado e cativo a Satanás.
Lutero descreveu a natureza dessa escravidão sob o aspecto de uma luta entre Deus e Satanás.
Assim, a vontade é como um animal entre dois cavaleiros. Se Deus o monta, ele quer ir e vai aonde Deus quer. [...] Se Satanás o monta, ele quer ir e vai aonde Satanás quer; ele não pode escolher correr para um deles ou seguir a um deles, mas os próprios cavaleiros brigam pela posse e controle dele.
Mesmo tendo alguns estudiosos encontrado traços de um dualismo maniqueísta nessa metáfora, Lutero estava meramente desenvolvendo uma imagem já apresentada por Jesus: “...todo o que comete pecado é escravo do pecado” e “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos...” (Jo 8.34,44). Há outro ponto que Lutero desenvolveu com respeito à vontade escravizada. Embora nosso destino eterno, em certo sentido, seja determinado por Deus, não somos com isso compelidos a pecar. Pecamos espontânea e voluntariamente. Continuamos querendo e desejando fazer o mal, a despeito do fato de que em nossas próprias forcas não podemos fazer nada para alterar essa condição. Essa é tragédia da existência humana se a graça: estamos tão curvados sobre nós mesmos que, pensando estar livres, entregamo-nos exatamente àquelas coisas que apenas aumentam nossa escravidão.
O propósito da graça é libertar-nos da ilusão da liberdade, que é na verdade escravidão, e guiar-nos para a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. Só quando a vontaade recebeu a graca, ou, para usar sua outra metáfora, só quando Satanás é vencido por um cavaleiro mais forte, “é que o poder da decisão torna-se realmente livre, em todos os aspectos concernentes à salvação”. A verdadeira intenção por trás do reforço de Lutero à vontade escravizada mostra-se óbvia agora. Deus deseja que possamos ser verdadeiramente livres em nosso amor para com ele; contudo, isso não é possível até que sejamos libertos de nosso cativeiro a Satanás e ao ego. O eco de resposta à escravidão da vontade é a liberdade do cristão .
Visto que, fora da graça, o homem não possui nem uma razão sã, nem uma vontade boa, “a única preparacao infalível para a graça [...] é a eleição eterna e a predestinação de Deus”. Lutero não se esquivou de uma doutrina de predestinação absoluta e dupla, ainda que admitisse que “isso é um vinho muito forte e comida substancial para os fortes”. Ele até restringiu o alcance da expiação aos eleitos: “Cristo não morreu por todos absolutamente”. Contra a objecao de que tal visão transformava Deus num ogro arbitrário, Lutero respondeu – como Paulo – “Deus assim o quer, e porque ele o quer, isso não é perverso”. A “prudencia da carne” diz que “é cruel e miseravel Deus buscar sua glória em minha maldade. Ouça a voz da carne! ´Meu, minha´, diz ela! Lance fora esse ´meu´ e diga, em lugar disso ´Glória a ti, Snhor´, e você será salvo”. A postura da razão é sempre de egocentrismo. Deus é apenas tão “injusto”, falando estritamente, ao justificar os ímpios à parte de seus méritos, quanto o é ao rejeitar outros à parte de seus deméritos. Ainda assim, ninguém reclama da primeira “injustiça”, porque o interesse pessoal está em jogo! Em ambos os casos, Deus é injusto pelos padrões humanos, mas justo e verdadeiro pelos seus. Lutero recusou-se a submeter Deus ao tribunal da justiça humana como se a “Majestade, que é o criador de todas as coisas, tivesse de curvar-se a uma das escórias de sua criação”. “Deixem Deus ser bom”, clamava Erasmo, o moralista. “Deixem Deus ser Deus”, replicava Lutero, o teólogo.
Embora Lutero nunca tenha suavizado sua doutrina da predestinação (como fizeram posteriormente os luteranos), ele de fato tentou estabelecer o mistério no contexto da eternidade. Lutero nunca admitiu que os inescrutáveis julgamentos de Deus eram realmente injustos, mas sim que somos incapazes de apreender o quanto são justos. Há, segundo ele, três luzes – a luz da natureza, a luz da graça e a luz da glória. Pela luz da graça, tornamo-nos capazes de entender muitos problemas que pareciam insolúveis pela luz da natureza. Mesmo assim, na luz da glória, os retos julgamentos de Deus – incompreensíveis para nós agora, mesmo pela luz da graça – serão abertamente manifestos. Lutero, então, apelava para a reivindicação escatológica da decisão de Deus na eleição. A resposta ao enigma da predestinação encontra-se no caráter oculto de Deus, por trás e alem de sua revelação. No final, quando tivermos prosseguido através das “luzes” da natureza e da graça para a luz da glória, o “Deus escondido” se mostrará um só como o Deus que está revelado em Jesus Cristo e proclamado no Evangelho. Nesse ínterim, Lutero admitiu, podemos apenas acreditar nisso. A predestinação, como a justificação, é também sola fide.
Ninguém conhecia melhor do que Lutero a angústia que o duvidar da própria eleição podia provocar numa alma vacilante. Como um pastor poderia responder a alguém que estivesse atormentado por esse problema? Lutero deu duas respostas a essa questão, uma para o cristão forte, a outra para o mais fraco ou para o novo convertido. A mais alta posição entre os eleitos pertence àqueles que “se conformam com o inferno se Deus o deseja”. A resignação com o inferno era tema popular na tradição mística e significava passividade absoluta, um total deixar-se perder ( Gelassenheit ) ante o abismo do ser de Deus. Lutero dizia que Deus dispensava esse dom aos eleitos de maneira breve e escassa, quase sempre na hora da morte.
Mais, comumente Lutero era chamado a aconselhar cristãos comuns que estavam atormentados pela questão da eleição. O conselho básico de Lutero era: “Agradeça a Deus por seus tormentos!”. É característico dos eleitos, não dos réprobos, tremer em face dos desígnios ocultos de Deus. Além disso, ele instava por uma completa refutação do diabo e uma contemplação de Cristo. Foi típica sua resposta a Bárbara Lisskirchen, que estava aflita sentindo não se encontrar entre os eleitos:
“Quando tais pensamentos a assaltam, você deve aprender a perguntar a si mesma: “Por favor, em que mandamento está escrito que eu deva pensar sobre esse assunto e lidar com ele?”. Quando parecer que não há tal mandamento, aprenda a dizer: “Saia daqui, maldito diabo! Você está tentando fazer com que eu me preocupe comigo mesma. Meu Deus declara em todos os lugares que eu devo deixá-lo tomar conta de mim [...]”. A mais sublime de todas as ordens de Deus é esta, que mantenhamos diante de nossos olhos a imagem de seu Filho querido, nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os dias ele deve ser nosso excelente espelho, no qual contemplamos o quanto Deus nos ama e quão bem, em sua infinita bondade, ele cuidou de nós ao dar seu Filho amado por nós. Desse modo, eu digo, e de nenhum outro, um homem aprende a lidar adequadamente com a questão da predestinação. Será evidente que você crê em Cristo. Se você crê, então será chamada. E, se é chamada, então muito certamente está predestinada. Não deix que esse espelho e trono de graça seja quebrado diante de seus olhos [...] Contemple o Cristo dado por nós. Então, se Deus desejar, você se sentirá melhor”.
A doutrina da predestinação defendida por Lutero não era motivada por interesses especulativos ou metafísicos. Era uma janela para a vontade graciosa de Deus, que se ligou livremente à humanidade em Jesus Cristo. A predestinação, como a natureza do próprio Deus, só pode ser atingida mediante a cruz, mediante as “feridas de Jesus”, às quais Staupitz havia dirigido o jovem Lutero em suas primeiras batalhas.
Pb. João Batista

domingo, 26 de junho de 2011

Teologia e Vida

* Início
* Sobre
o O que significa Teologia e Vida
o Nosso propósito
o Em que crê um cristão reformado?
* Cremos
o Credo Apostólico
o Credo de Atanásio
o Credo Niceno-Constantinopolitano
o Cânones de Dort
o Declaração de Cambridge
o Declaração de Chicago sobre a Inerrância Bíblica
o Declaração de Fé de Calcedônia
o Pacto de Lausanne
* Colaboradores
o André Aloísio
o Davi Luan
o Jacilene S. Silva
o Yago Martins
* Como ser salvo
o A Ira do Senhor
o Boas Novas aos Indignos e Pecadores
o Como Irei a Deus?
o Conhecendo o Verdadeiro Deus
* Leitura
* Contato

* Textos por Autor
o André Aloísio
o Davi Luan
o Jacilene S. Silva
o Lucas de Lima
o Yago Martins
o Outros autores
* Categorias
o Artigos
o Avisos
o Biografias
o Cartas
o Comentários
o Confissões e Catecismos
o Estudos
o Livros
o Meditações
o Músicas e Poesias
o Orações
o Sermões
o Vídeos
* Assuntos
o Antropologia
o Atualidades
o Avivamento e Reforma
o Bibliologia
o Calvinismo
o Cristologia
o Eclesiologia
o Escatologia
o Evangelismo e Missões
o Heresias
o Patrística
o Pneumatologia
o Soteriologia
o Teologia
o Vida Cristã

quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Marcadores: André Aloísio, Cartas, Vida Cristã
Depressão e Felicidade em Deus
4 comentários Quinta-feira, Novembro 20, 2008, Postado por André Aloísio

O texto abaixo foi originalmente um e-mail enviado por mim a uma amiga com depressão, no dia 28/10/2008.

Ontem eu li uma frase de um cristão muito antigo, do século IV, chamado Agostinho. Ele escreveu: "A busca de Deus é a busca da felicidade. O encontro com Deus é a própria felicidade".

Eu creio que compreender o que está contido na frase acima é o segredo para se superar toda tristeza, decepção e depressão. Digo isso porque eu mesmo já passei por momentos complicados em minha vida, em que fiquei muito depressivo, e tais momentos foram superados com a essência do que Agostinho disse acima.

Toda depressão surge quando nossa vida perde o significado. Isso pode acontecer por vários motivos, dois dos quais são: rotina e apego a coisas ou pessoas. Quando nossa vida fica presa à rotina, com a mesmísse de sempre, perdemos o significado e propósito da vida. Não fazemos nada de novo e a vida começa a se tornar enjoativa, literalmente. Quando nos apegamos a coisas ou pessoas sofremos grandes decepções, pois tanto as coisas quanto as pessoas mudam constantemente e não são eternas. Se fazemos delas o propósito de nossa vida, chega um momento em que elas nos decepcionam, e nossa vida fica destituída de significado.

Quando a vida perde o significado automaticamente entramos em depressão e perdemos a vontade de viver. Parece que já não há motivo para continuar essa caminhada. Muitos têm vontade de se matar, porque não querem mais viver. Eu mesmo já passei por isso.

É em momentos como esse que devemos entender que o propósito de nossa vida neste mundo é a glória de Deus, e somos felizes apenas quando nos satisfazemos n'Ele. Nós só encontramos a felicidade quando Deus passa a ser o alvo da nossa vida. Quando nos apoiamos em coisas ou pessoas nós caímos, porque elas mudam constantemente. Mas se nos apoiamos em Deus estamos seguros, pois Ele é sempre o mesmo e os Seus anos não têm fim (Sl.102.27). Assim, quando nosso coração está em Deus, que é a Rocha Eterna, nós somos felizes, e essa felicidade é eterna, assim como Ele.

Quando Deus é a nossa alegria nada pode nos abalar. Ainda que o mundo caia à nossa volta, os problemas financeiros venham, as pessoas nos decepcionem e tudo dê errado, permanecemos firmes, porque Deus é a fortaleza do nosso coração e a nossa herança para sempre (Sl.73.26).

Por isso, não deixe nada tirar a sua alegria! Que apenas Deus seja sua felicidade! Medite nisso e você verá como muitas coisas irão mudar e como a depressão irá embora rapidamente.

sábado, 25 de junho de 2011

TULIP - Os Cinco Pontos do Calvinismo
Embora o calvinismo não seja resumido somente aos famosos 5 Pontos (tulip), creio que uma idéia resumida dos principais pontos quanto à soteriologia (doutrina da salvação) da teologia reformada (calvinista) possa dar uma ajuda aos interessados. Eis aqui, então, um resumo dos famosos cinco pontos do calvinismo dispostos no histórico acróstico TULIP.
TULIP
Acróstico formado pelas iniciais, em inglês, das cinco doutrinas reformadas da salvação, conhecidas também como as Doutrinas da Graça.
• Depravação Total (Total Depravity)
• Eleição Incondicional (Unconditional Election)
• Expiação Limitada (Limited Atonement)
• Graça Irresistível (Irresistible Grace)
• Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints)

Depravação Total
A Bíblia diz que Deus criou o primeiro homem, Adão, à Sua imagem e semelhança. Deus fez um pacto com esse homem a fim de que, através da obediência aos Seus mandamentos, este pudesse obter vida. Contudo, o homem falhou desobedecendo a Deus deliberadamente, fazendo uso do seu livre-arbítrio, rebelando-se contra o seu Criador. Este pecado inicial de desobediência (conhecido como a Queda do Homem) resultou em morte espiritual e ruptura na ligação de sua alma com Deus, o que mais tarde trouxe também sua morte física. Sendo Adão o representante de toda a raça humana, todos caímos com ele e fomos afetados pela mesma corrupção do pecado. Tornamo-nos objetos da justa ira de Deus e a morte passou a todos os homens.

Toda a humanidade herdou a culpa do pecado de Adão e por isso todos nascemos totalmente depravados e espiritualmente mortos. A morte espiritual não quer dizer que o espírito humano esteja inativo, mas sim que o homem é culpado (tem um passado manchado) e corrupto (possui uma natureza má). A depravação total não quer dizer que os homens são intensivamente maus (que somos tão maus quanto poderíamos ser), mas sim que somos extensivamente maus (todo o nosso ser, intelecto, emoções e vontade estão corrompidos pelo pecado).

A depravação total também significa que o homem possui uma inabilidade total para restaurar o relacionamento com seu Criador. Por causa da depravação, o homem natural, por si mesmo, é totalmente incapaz de crer verdadeiramente em Deus. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas espirituais. Desde a Queda o homem perdeu o seu livre-arbítrio e passou a ser escravo de sua natureza corrompida e por isso ele é incapaz de escolher o bem em questões espirituais. Todas as falsas religiões são tentativas do homem de construir para si um deus que lhe seja propício. Porém, todas essas tentativas erram o alvo, pois o homem natural por si mesmo não quer buscar o verdadeiro Deus.

Devido ao estado de depravação do homem, se Deus não tomasse a iniciativa de salvá-lo, ele continuaria morto eternamente. O homem natural sem o conhecimento de Deus jamais chegará a este conhecimento se Deus não ressuscitá-lo espiritualmente através de Jesus Cristo.

REFERÊNCIAS BÍBLICAS: Gn 2:17; Gn 6:5; Gn 8:21 / 1Rs 8:46 / Jo 14:4 / Sl 51:5 / Sl 58:3 / Ec 7:20 Is 64:6 / Jr 4:22; Jr 9:5-6; Jr 13:23; Jr 17:9 / Jo 3:3; Jo 3:19; Jo 3:36;Jo 5:42; Jo 8:43,44 / Rm 3:10-11; Rm 5:12; Rm 7:18, 23; Rm 8:7 /1Co 2:14 / 2Co 4:4 / Ef 2:3 / Ef 4:18 / 2Tm 2:25-26 / 2Tm 3:2-4 / Tt 1:15

Eleição Incondicional
Devido ao pecado de Adão, seus descendentes entram no mundo como pecadores culpados e perdidos. Como criaturas caídas, elas não têm desejo de ter comunhão com o seu Criador. Deus é santo, justo e bom, ao passo que os homens são pecaminosos, perversos e corruptos. Deixados à sua própria escolha, os homens inevitavelmente seguem seu coração corrupto e criam ídolos para si. Conseqüentemente, os homens têm se desligado do Senhor dos céus e têm perdido todos os direitos de Seu amor e favor. Teria sido perfeitamente justo para Deus ter deixado todos os homens em seus pecados e miséria e não ter demonstrado misericórdia a quem quer que seja. É neste contexto que a Bíblia apresenta a eleição.

A eleição incondicional significa que Deus, antes da fundação do mundo, escolheu certos indivíduos dentre todos os membros decaídos da raça humana e os predestinou para serem o objeto de Seu imerecido amor e para trazê-los ao conhecimento de Si mesmo. Esses, e somente esses, Deus propôs salvar da condenação eterna. Deus poderia ter escolhido salvar todos os homens (pois Ele tinha o poder e a autoridade para fazer isso), ou Ele poderia ter escolhido não salvar ninguém (pois Ele não tem a obrigação de mostrar misericórdia a quem quer que seja), porém não fez uma coisa nem outra. Ao invés disso, Ele escolheu salvar alguns e excluir (preterir) outros. Sua eterna escolha de determinados pecadores para a salvação não foi baseada em qualquer ato ou resposta prevista da parte daqueles escolhidos, mas foi baseada tão somente no Seu beneplácito e na Sua soberana vontade. Desta forma, a eleição não foi condicionada nem determinada por qualquer coisa que os homens iriam fazer, mas resultou inteiramente do propósito determinado pelo próprio Deus.

Os que não foram escolhidos foram preteridos e deixados às suas próprias inclinações e escolhas más para serem punidos pelos seus pecados. Não cabe à criatura questionar a justiça do Criador por não escolher todos para a salvação. Deve-se ter em mente que, se Deus não tivesse graciosamente escolhido um povo para Si mesmo e soberanamente determinado prover-lhe e aplicar-lhe a salvação, ninguém seria salvo.

REFERÊNCIAS BÍBLICAS: Dt 4:37; Dt 7:7-8 / Pv 16:4 / Mt 11:25; Mt 20:15-16; Mt 22:14 / Mc 4:11-12 Jo 6:37; Jo 6:65; Jo 12:39-40; Jo 15:16 / At 5:31; At 13:48; At 22:14-15 /Rm 2:4; Rm 8:29-30; Rm 9:11-12; Rm 9:22-23; Rm 11:5; Rm 11:8-10 /Ef 1:4-5; Ef 2:9-10 / 1Ts 1:4; 1Ts 5:9 / 2Ts 2:11-12; 2Ts 3:2/ 2Tm 2:10,19/1 Pe 2:8 / 2 Pe 2:12 / Tt 1:1 / 1Jo 4:19 / Jd 1:3-4 / Ap 13:8; Ap 17:17

Expiação Limitada
Embora Deus tenha resolvido salvar da condenação um certo número de homens, Sua santidade e justiça exigem que o pecado seja punido. Como os escolhidos de Deus são pecadores, uma expiação completa e perfeita era necessária. Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, suportou o castigo merecido pelos pecadores e obteve a Salvação para os Seus eleitos.

A eleição em si não salvou ninguém; apenas destacou alguns pecadores para a salvação. Os que foram escolhidos por Deus Pai e dados ao Filho precisavam ser redimidos para serem salvos. Para assegurar sua redenção, Jesus Cristo veio ao mundo e tomou sobre Si a natureza humana para que pudesse identificar-se com os Seus eleitos e agir como seu representante ou substituto. Cristo, agindo em lugar do Seu povo, guardou perfeitamente a lei de Deus e dessa forma produziu uma justiça perfeita a qual é imputada aos eleitos ou creditada a eles no momento em que são trazidos à fé nele. Através do que Cristo fez, esse povo é constituído justo diante de Deus. Os eleitos são libertos da culpa e condenação como resultado do que Cristo sofreu por eles. Através do Seu sacrifício substitutivo, Jesus sofreu a penalidade dos pecados dos eleitos e assim removeu a culpa deles para sempre. Por conseguinte, quando Seu povo é unido a Ele pela fé, é-lhe creditada perfeita justiça pela qual ficam livres da culpa e condenação do pecado. São salvos não pelo que fizeram ou irão fazer, mas tão somente pela fé na obra redentora de Cristo.

A obra redentora de Cristo foi definida em desígnio e realização. Foi planejada para render completa satisfação em favor de certos pecadores específicos e, de fato, assegurou a salvação para esses indivíduos e para ninguém mais. A salvação que Cristo adquiriu para o Seu povo inclui tudo que está envolvido no processo de trazê-los a um correto relacionamento com Deus, incluindo os dons da fé e do arrependimento. Deus não deixou aos pecadores a decisão se a obra de Cristo será ou não efetiva. Pelo contrário, todos aqueles por quem Cristo morreu serão infalivelmente salvos. A redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição.

REFERÊNCIAS BÍBLICAS: 1Sm 3:14 / Is 53:11-12 / Mt 1:21; Mt 20:28; Mt 26:28 / Jo 10:14-15 /Jo 11:50-53; Jo 15:13; Jo 17:6,9,10 / At 20:28 / Rm 5:15 / Ef 5:25 / Tt 3:5 /Hb 9:28 / Ap 5:9

Graça Irresistível
Cada membro da Trindade divina – Pai, Filho e Espírito Santo – participa e contribui para a salvação dos pecadores eleitos. Deus Pai, antes da fundação do mundo, selecionou aqueles que iriam ser salvos e deu-os ao Filho para serem o Seu povo. Na época oportuna o Filho veio ao mundo e assegurou a redenção desse povo. Mas esses dois grandes atos – a eleição e a redenção – não completam a obra da salvação, pois está incluída no plano divino para a recuperação do pecador perdido a obra renovadora do Espírito Santo, pela qual os benefícios da obediência e da morte de Cristo são aplicados ao eleito. A Graça Irresistível ou Eficaz significa que o Espírito Santo nunca falha em trazer à salvação aqueles pecadores que Ele pessoalmente chama a Cristo. Deus aplica inevitavelmente a salvação a todo pecador que tencionou salvar, e é Sua intenção salvar todos os eleitos.

O apelo do evangelho estende uma chamada à salvação a todo que ouve a mensagem. Ele convida a todos os homens, sem distinção, a beber da água da vida e viver. Ele promete salvação a todo que se arrepender e crer. Mas essa chamada geral externa, estendida igualmente ao eleito e ao não eleito, não trará pecadores a Cristo. Por que? Porque os homens estão, por natureza, mortos em pecado e debaixo de seu poder. Eles são, por si mesmos, incapazes de abandonar os seus maus caminhos e se voltarem a Cristo, para receber misericórdia. Nem podem e nem querem fazer isso. Conseqüentemente, o não regenerado não vai responder à chamada do evangelho para arrepender-se e crer. Nenhuma quantidade de ameaças ou promessas externas fará um pecador cego, surdo, morto e rebelde se curvar perante Cristo como Senhor e olhar somente para Ele para a salvação. Tal ato de fé e submissão é contrário à natureza do homem.

Por isso, o Espírito Santo, para trazer o eleito de Deus à salvação, estende-lhe uma chamada especial interna em adição à chamada externa contida na mensagem do evangelho. Através dessa chamada especial, o Espírito Santo realiza uma obra de graça no pecador que inevitavelmente o traz à fé em Cristo. A mudança interna operada no pecador eleito o capacita a entender e crer na verdade espiritual.

No campo espiritual, são lhe dados olhos para ver e ouvidos para ouvir. O Espírito Santo cria no pecador eleito um novo coração e uma nova natureza. Isto é realizado através da regeneração (novo nascimento), pela qual o pecador é feito filho de Deus e recebe a vida espiritual. Sua vontade é renovada através desse processo, de forma que o pecador vem espontaneamente a Cristo por sua própria e livre escolha.

REFERÊNCIAS BÍBLICAS: Jr 24:7 / Ez 11:19-20; Ez 36:26-27 / Mt 16:17 / Jo 1:12-13; Jo 5:21; Jo 6:37; Jo 6:44-45 / At 16:14; At 18:27 / 1Co 4:7 / 2Co 5:17 / Gl 1:15 / Rm 8:30 / Ef 1:19-20 / Cl 2:13 / 2Tm 1:9 / 1Pe 2:9; 1Pe 5:10 / Hb 9:15

Perseverança dos Santos
Os eleitos não são apenas redimidos por Cristo e regenerados pelo Espírito; eles são mantidos na fé pelo infinito poder de Deus. Todos os que são unidos espiritualmente a Cristo, através da regeneração, estão eternamente seguros nEle. Nada os pode separar do eterno e imutável amor de Deus. Foram predestinados para a glória eterna e estão, portanto, assegurados para o céu. A perseverança dos santos não significa que todas as pessoas que professam a fé cristã estão garantidas para o céu. Somente os santos – os que são separados pelo Espírito – é que perseveram até o fim. São os crentes – aqueles que recebem a verdadeira e viva fé em Cristo – os que estão seguros e salvos nele. Muitos que professam a fé cristã desistem no meio do caminho, mas eles não desistem da graça, pois nunca estiveram na graça. A perseverança dos santos está diretamente ligada à santificação, que é o processo pelo qual o Espírito Santo torna os eleitos cada vez mais semelhantes a Jesus Cristo em tudo o que fazem, pensam e desejam. A luta dos crentes contra o pecado dura toda a vida e, às vezes, eles podem cair em tentações e cometer graves pecados, mas esses pecados não os levam a perder a salvação ou a afastar-se de Cristo.A Bíblia diz que o povo de Deus recebe a vida eterna no momento em que crê. São guardados pelo poder de Deus mediante a fé e nada os pode separar do Seu amor. Foram selados com o Espírito Santo que lhes foi dado como garantia de sua salvação e, desta forma, estão assegurados para uma herança eterna.

REFERÊNCIAS BÍBLICAS: Is 54:10 / Jr 32:40 / Mt 18:14 / Jo 6:39; Jo 6:51; Jo 10:27-29 / Rm 5:8-10; Rm 8:28-32, Rm 8:34-39; Rm 11:29 / Gl 2:20 / Ef 4:30 / Fp 1:6 / Cl 2:14 /2Ts 3:3 / 2Tm 2:13,19 / Hb 7:25; Hb 10:14 / 1Pe 1:5 / 1Jo 5:18 / Ap 17:14

5 Passos para uma vida vitoriosa.


Texto: Mateus 16. 13-20.
Tema: 5 Passos para uma vida vitoriosa.
Introdução:
As pessoas estão sendo levadas por contos de fabulas, onde se prega que ter vitoria é sinônimo de riquezas materiais. Nesta passagem eu vejo atitudes relevantes que podem nos outorgar a vitoria sobre as dificuldades da vida.
I. Possuir uma visão definida ( Vs 16)
Afaste-se o Maximo de tudo aquilo que tende a te afastar de Deus, Deixe as coisas do mundo e permaneça bem perto de Deus. Em Isaias 45. 22 Deus faz um convite: “olhai para mim” ter uma visão definida é entender que precisamos aprender a não mais andarmos por ai querendo algo extraordinário alem de termos a graça de Deus nos protegendo da perdição eterna. Ter uma visão definida porque somos uma geração espiritual, pela qual nos tem sido doado as suas preciosas e mui grandes promessas para que por elas vos tornes co-participantes da natureza divina. Livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo. São preciosas porque são uma realidade presente e futura, são mui grandes porque vão alem de qualquer imaginação humana possível. “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” existem muitos Crentes com crise de identidade, sem uma visão definida. Pedro teve essa visão.
II. Possuir tato-descernimento destacando carne e espírito ( Vs 17)
Na declaração de Paulo em 2 Coríntios vemos apresentada uma nova unidade. “uma nova criação em uma nova esfera, em Cristo Jesus. Dotada de uma nova ordem porque “as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”. Precisamos ter discernimento entre o que é de Deus, e o que é do homem. Não podemos mais viver voltados para uma “teologia” morta sem sabor que só prega a falsidade da prosperidade. Ser prospero em Cristo é saber se libertar desses falsos ensinos e continuar olhando para o autor e consumador da nossa fé. Pedro teve esse discernimento quando Cristo perguntou quem eles achavam que Ele era.
III. Possuir fundamentos na pedra angular (Vs 18)
Sobre esta pedra edificarei. Viver uma vida pressupõe uma natureza da qual proceda aquela vida. Os resultados de uma vida fundamentada na pedra angular são os frutos do Espírito Santo, os frutos de uma vida renovada que expressão a vida de Cristo operando em nós. Jesus disse para Pedro que Ele, Jesus, é essa pedra angular, e que se nós queremos mesmo ser vitoriosos, então teremos que fundamentar a nossa vida nas promessas de Que haveremos de habitar no céu de gloria com o Senhor Jesus.
IV. Possuir a certeza da vitoria sobre o inferno
Não devemos por em duvidas a nossa vitoria, porque o sacrifício de Jesus Cristo infinitamente precioso, o sacrifício do seu sangue não pode perder o seu valor ou eficácia. A fé valorizada pelo sofrimento excede o valor do ouro e da prata. A confiança em Cristo Jesus, é essencial como acompanhamento e como evidencia da nossa vitoria sobre satanás.
V. Possuir a grandeza da ousadia
Devemos levar o ataque ate as portas do hades. A historia da igreja do primeiro século mostra que, a igreja não é constituída apenas sobre a pessoa de Cristo, mas, que também o é na sua obra que o obrigou a morrer (entrar no hades) e conquistar a morte através da ressurreição. Por isso, precisamos possuir a ousadia ao declarar com a nossa vida publica a nossa fé em Deus, possuir ousadia é não permitir que amigos, trabalho, familiares namoro, finanças, que nada atrapalhe a sua intimidade com Deus.
Conclusão:
Tenha uma visão definida em olhar para Cristo.
Aprenda a discernir quando é Deus falando, ou quando é o charlatão.
Fundamente sua vida na pedra angular que é Jesus Cristo.
Não tenha duvida de que agindo assim Deus vai te dar a vitoria.
Possua a grandeza da ousadia em dedicar-se integralmente ao Senhor nosso Deus.
Que Deus os abençoe. Pb. João Batista

Calvinista, graças a Deus!


Calvinista, graças a Deus!
.Por Leonardo Gonçalves
Calvinismo é o nome que popularmente se dá à formulação teológica que se preocupa por enfatizar a glória de Deus e sua soberania sobre os assuntos humanos em toda a sistemática doutrinária. Recebe este nome por causa do reformador francês João Calvino, o primeiro grande sistematizador da teologia cristã protestante. O que muitos ignoram, no entanto, é que Calvino não foi o “inventor” do calvinismo. A doutrina que envolve a soberania de Deus sobre os assuntos humanos, a predestinação do homem para a salvação e, conseqüentemente, para a condenação, a total pecaminosidade do homem não-regenerado que o impede de dar qualquer passo em direção a Deus, a negação do livre-arbítrio como fator soteriológico, tudo isso já era pregado por Lutero e os outros reformadores. Esta doutrina também era ensinada pelos pais primitivos, e muito especialmente nos escritos de Agostinho, bispo de Hipona, depois canonizado pela igreja católica. Enfim, a doutrina calvinista sempre existiu, embora com outros nomes, porque ela é bíblica e encontra suas bases mais sólidas nas sublimes afirmações de Jesus e do apóstolo Paulo.

Tal é a superioridade e o bibliocentrismo da teologia calvinista, que o grande pregador Charles Spurgeon chegou a afirmar que “calvinismo é apenas outro nome para evangelho”. De fato, nenhuma teologia posterior a ela conseguiu superá-la no que diz respeito à fidelidade doutrinária. Não é por casualidade que ela era crida e ensinada por grandes mentes do protestantismo, tais como Jonathan Edwards, Charles Haddon Spurgeon, e por célebres missionários como William Carey e Hudson Taylor. Ao longo dos anos a doutrina calvinista foi questionada, primeiro por James Armínio e seus discípulos, e ainda hoje é atacada por muitos, entre os quais se encontram principalmente os arminianos, os teólogos relacionais e liberais, mas jamais houve um momento da história eclesiástica esta doutrina deixou de ser crida e pregada.

Ainda me lembro do primeiro debate que tive com um calvinista. Naquela época eu tinha recém saído de um seminário pentecostal, onde havia sido bem instruído no arminianismo. Lá tinham me ensinado (sutilmente) que o calvinismo é uma grave heresia e uma desculpa para viver uma vida sem santidade ou temor. Lembro daqueles acalorados debates, dos quais eu sempre saia cheio de dúvidas (Dúvidas que pouco a pouco foram se convertendo em certezas opostas àquelas que eu tinha sustentado naqueles primeiros anos). Jamais me esquecerei do dia em que este amigo e debatedor me emprestou um exemplar em espanhol da “Carta de João Calvino ao Rei da França: Instituição da Igreja Cristã” . Que experiência maravilhosa ler aquele livro! Somente um livro despertou em mim mais prazer e curiosidade que aquele; a Bíblia Sagrada, no qual aquele volume estava respaldado.

Após isso voltei ao Brasil. Na viagem, eu lutava contra aquela “nova crença” que estava querendo brotar no meu coração. Ao chegar, me matriculei no curso de mestrado em teologia (livre). Para obter o título, escrevi uma tese de 200 páginas sobre aquilo que os filósofos chamam de “o problema do mal”. Em resumo, a tese se baseava no livre-arbítrio do homem, e era uma negação disfarçada do calvinismo, agrave heresia da qual me apaixonei na minha primeira estadia no país dos Incas. O problema é que quanto mais eu buscava pelo livre arbítrio, mas eu encontrava o designo de Deus. Terminei a dissertação, me graduei, mas o coração estava apertado, pois era a primeira vez que eu defendia uma crença incompatível com as minhas convicções.

Foi então que me falaram de um livro fantástico: “Eleitos, mas Livres”, do renomado apologista cristão Norman Geisler. Aparentemente, era tudo o que eu precisava naquele momento: Um argumento que conciliasse a liberdade humana absoluta e a eleição de Deus, cujo proponente era um dos maiores apologetas da atualidade. Mas a leitura deste livro foi um placebo, e seu efeito durou apenas alguns meses. Nessa época eu ensinava teologia sistemática no seminário da minha igreja, e pela primeira vez ensinei o calvinismo e o arminianismo ao mesmo tempo, incluindo no final da exposição aquilo que eu chamava de “cosmovisao conciliadora”. Que fiasco! Mais fácil me teria sido conciliar água e óleo.

Durante a leitura de “Eleitos, mas livres”, tive grande curiosidade de conhecer mais sobre o R.C. Sproul e o tal livro “Eleitos de Deus”, a quem Norman Geisler aparentemente refutava. Na verdade, a leitura daquele livro se impunha como uma questão de justiça: Eu precisava dar uma oportunidade também ao R.C. e o seu livro antes de tirar minhas conclusões. Até então, tudo o que eu tinha deste autor era um pequeno livro chamado “Filosofia para Iniciantes”, que ocupava um lugar secundário na minha parca biblioteca. Pois bem; bastou iniciar a leitura para o meu pesadelo recomeçar, porém agora o efeito que esta crença teria sobre mim seria decisivo. Acabei a leitura perplexo do “biblismo” do autor, o qual diferente de Norman Geisler, não apelava todo tempo para silogismos da razão humana, mas sempre recorria ao texto bíblico para elucidar suas questões. Ao terminar a leitura, eu estava “quase calvinista”.

Neste ponto, decidi trilhar meu próprio caminho. Separei um tempo para estudar sistematicamente a carta de Paulo aos Romanos, o maior tratado soteriológico já escrito. Decidi esvaziar ao máximo dos meus pressupostos, a fim de encarar o texto bíblico e as implicações a que ele me levasse. Em oração, passeei pelos primeiros capítulos e fiquei assombrado diante da total incapacidade humana. A frase “não há quem busque a Deus” ficou ecoando no meu coração durante muitos dias. Ali eu me vi morto em pecado, incapaz de buscar ao meu Senhor por mim mesmo, ou pelo meu livre arbítrio. Que terrível destruição causou o pecado! Os capítulos seguintes me conscientizaram da oferta gratuita de Deus, a salvação, a qual – agora eu entendia – era um bem eterno e irrevogável. Segui em meu estudo por alguns dias, e encontrei finalmente a visão da soberania de Deus, tanto sobre o destino das nações, quanto sobre os indivíduos. Um oleiro que tem absoluto poder sobre os vasos, inclusive para fazer uns para honra e exercer sobre eles misericórdia justa (estribada na justiça de Cristo); como para fazer outros para desonra e ira, e demonstrar sobre eles sua justiça penalizadora (estribada na sua santidade). Finalmente, entendi que “não depende de quem corre, mas de Deus que tem misericórdia”.

Após esta leitura fiz uma busca por toda bíblia, a qual sempre me dirigia a esta mesma verdade: A de que o homem nada pode fazer pela sua salvação, de que Deus os chama como um ato soberano e glorioso e de que o “livre-arbítrio” está dominado por uma perversa natureza que é incapaz de exercer impulso soteriológico positivo. Permanece, no entanto, alguns questionamentos de outrora. Na verdade, depois de algum tempo me dei conta de que algumas questões realmente não possuem explicação lógica. Entendi que o paradoxo é essencial ao cristianismo, uma vez que o cristianismo é um ato de fé. Mas não busco justificar a Deus por punir o pecado com um inferno eterno, tal como muitos pretensos apologistas fazem. Apenas repito ao meu coração que as ações de Deus são justas (como de fato, são) e toco o meu barco. Reconheço que o calvinismo, à principio, é uma doutrina amarga, principalmente para aqueles que foram instruídos no “melhor” do arminianismo e do pentecostalismo. No entanto, não me convém modificar uma doutrina bíblica apenas pelo sabor que ela proporciona ao meu paladar. Nem os meus gostos, nem meus preconceitos ou mesmo a minha justiça humana pode definir uma doutrina bíblica. “À lei e ao testemunho!”. Sola Scriptura!

Reconheço que meu calvinismo carece de mais robustez. No entanto, o conhecimento que hoje tenho dele não traz mais nenhum sabor amargo. Graças ao “calvinismo” (leia-se: sistematização do evangelho de Jesus), pude finalmente descansar na graça de Deus. Não fiquei mais pecador por isso. Não evangelizo menos depois que entendi que a salvação está ligada a uma eleição feita na eternidade. Não oro menos depois que descobri que “estou salvo para sempre”. Antes, a segurança da salvação me faz imensamente grato, e é esta gratidão e amor que me oferecem combustível para uma vida de temor e piedade. Desde que atribuí toda a glória a Deus por minha salvação, não confiando mais na “obra do meu arbítrio”, passei a ser mais humilde, pois entendi que tudo, absolutamente tudo de bom, é um presente de Deus.

Entendo que Deus tem interesse que seus filhos conheçam a verdade sobre a sua salvação, e que por isso ele mesmo me guiou neste processo. E cada vez que alguém questiona: “Você é calvinista?”, respondo com alegria: “Sou calvinista, GRAÇAS A DEUS”. Sim, graças a Deus!

Soli Deo Gloria

A CATOLICIDADE DA FÉ REFORMADA E SEUS EQUIVALENTES EVANGÉLICOS


A CATOLICIDADE DA FÉ REFORMADA E SEUS EQUIVALENTES EVANGÉLICOS
NOTA DO CRISTÃO REFORMADO: Mais uma vez, a publicação do texto do Dr. Clark tem fins dialogais. Eu mesmo pedi o livro Doctrine, de Mark Driscoll e Gerry Brashears, a fim de verificar in loco o pensamento dos mesmos.
Dr. R. Scott Clark
Recentemente, Mark Driscoll e Gerry Brashears publicaram um exame da doutrina cristã básica. Martin Downes avaliou proveitosamente a explicação da doutrina de Cristo segundo eles. É interessante ver o modo como dois escritores aparentemente “Reformados” tratam um assunto do dogma católico. Contraste a forma como esta questão é abordada com a forma como ela é tratada pelas Igrejas Reformadas nas Confissões Reformadas.
O artigo 10 da Confissão Belga (1561), diz:
Cremos que Jesus Cristo, de acordo com sua natureza divina, é o único Filho de Deus – eternamente gerado, não feito nem criado, pois assim ele seria uma criatura. Ele é um em essência com o Pai; co-eterno; a imagem exata da pessoa do Pai e o “resplendor da sua glória”, sendo como Ele em todas as coisas. Ele é o Filho de Deus não apenas por ter assumido a nossa natureza no tempo, mas desde de toda eternidade...
O Capítulo 3 da Segunda Confissão Helvética, de Heinrich Bullinger (1561; publicada em 1566), diz:
... como o Pai gerou o Filho desde a eternidade, o Filho foi gerado por uma geração inefável.
A Confissão de Fé de Westminster (1647) [no Capítulo II], diz:
III. Na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade – Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. O Pai não é de ninguém – não é gerado, nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho.
O Credo de Atanásio diz: “Pois a fé verdadeira é que creiamos e confessemos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem. Deus da substância do Pai, gerado antes dos mundos (ante saecula); e feito da substância de Sua mãe, nascido no mundo”.
A expressão “ante saecula” significa, “desde a eternidade”. A Vulgata (Latina) traduz 1 Coríntios 2.7, “Mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que estava oculta, a qual Deus ordenou antes dos séculos (pró tôn aiônôn) para nossa glória”, com a mesma expressão, “ante saecula”. Isso significa “desde a eternidade”. Ela está intimamente relacionada com a expressão encontrada em Romanos 16.27 e Gálatas 1.5 (e em muitos outros lugares) “pelos séculos dos séculos” (eis tous aiônas tôn aiônôn) como “in saecula saecolorum”.
Quando Atanásio diz “gerado antes dos mundos”, está dizendo, “eternamente gerado”. Essa é a doutrina do Credo Niceno quando ele diz “gerado, não feito”. O ponto de contraste é repudiar a noção herética do que “havia quando o Filho não existia”. Eles estavam afirmando o oposto: nunca houve tempo em que o Filho não existisse. O Filho sempre existiu. O Filho sempre foi o Filho. Isso é um grande mistério, é claro, mas o intento dos credos católicos é evidente.
Se a minha compreensão da história recente do evangelicalismo estiver correta, Driscoll e Brashears não são os únicos evangélicos adeptos da doutrina da predestinação que adotaram uma perspectiva similar em relação a essa questão. Será que, talvez isso aconteça devido à forma como os evangélicos não-confessionais se relacionam com a tradição Cristã, com as confissões e com os credos católicos?
Uma vez mais: Se as Igrejas Reformadas confessam que o Filho é eternamente gerado e os evangélicos adeptos da predestinação (YRR) negam isso, podem estes ser descritos adequadamente como “Reformados”? Se os evangélicos adeptos da predestinação não confessam nossa Cristologia, nossa teologia do Pacto, nossa eclesiologia, nossa doutrina dos sacramentos, o que existe em sua teologia, piedade e prática que os tornam Reformados?
FONTE: http://heidelblog.wordpress.com/2010/10/18/the-catholicity-of-the-reformed-faith-and-its-evangelical-counterparts/

Chegai-vos a Deus


Chegai-vos a Deus

Sermão que preguei em Limoeiro do Norte Ceará.
Tema: Chegai-vos a Deus.
Texto: Tiago 4 versículo 8. “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de animo dobre, limpai o coração”.
A distancia nunca é boa, a distancia só é boa quando é a respeito daquilo que não gostamos
A distancia entre Deus e o homem é vista de 2 maneiras.
1ª Ideias (Isaias 55. 8-9).
2ª Maneira relacionamental. O que significa chegar-se a Deus?
Eu quero destacar Cinco ações relevantes por Tiago aqui apresentadas.
I. É uma ação ordenada solenemente.
Tiago esta dizendo algo muito serio. Você não pode e não deve pensar que pode manipular a Deus , você deve buscar ao Senhor enquanto se pode achar, Tiago não esta brincando. Por que o que esta em jogo é a vida eterna no céu, ou no inferno.
Tudo isso depende de buscarmos ou não a Deus. Para os Eleitos ele se deixa achar!
II. É uma ação de nossa parte.
Deus já fez tudo por nós e é preciso sairmos ao encontro de Deus. Não temos que esperar um novo pentecostes para seremos avivados. Só por que a Bíblia diz que nos últimos dias o Espírito será derramado sobre a carne, não temos que esperar mais, o que precisamos é de chegarmos a Deus, pois o Espírito já foi derramado. E Deus se chegará a nós. Precisamos urgentemente chegar a Deus.
III. É uma ação de poder.
O mundo em que vivemos é vazio, mas com freqüência tem iludido muitos crentes “inclusive Reformados”. O que enche o vazio do homem não é a programação da igreja, não é viver dentro da igreja hipocritamente, quem preenche o vazio do homem é Deus. Por isso, chegai-vos a Deus. Não é as noitadas com mulheres e amigos que preenche o vazio do homem, não é o dinheiro que preenche o vazio do homem, por que esse vazio só pode ser preenchido com o Soberano Deus. Por isso, Chegai-vos a Deus!
IV. É uma ação urgente.
Se você perguntasse pra Tiago o que fazer quando tudo dá errado?. Ele responderia Chegai-vos a Deus. O que fazer quando a fé esta esfriando? Chegai-vos a Deus. Qual a sua necessidade? Chegue-se a Deus.
V. É uma ação abrangente.
Quando o homem chega até Deus a sua vida é totalmente transformada. Essa ação requer o tudo de nós o coração, o pensamento, palavras, o culto envolve tudo, nossa forma de agir, no trabalho em qualquer lugar que estejamos. Chegar-se a Deus traz consigo uma promessa. Ele se chegará a vós.
Conclusão.
Deus está conosco na proporção em que estamos com ele. 2 Crônicas 15. 2
Chegar-se a Deus exige purificação porque o pecado nos separa de Deus. Provérbios 28. 13. 1 João 1. 9.
Pb. João Batista